Rótulos: Orientação ou motivo de confusão?

Os rótulos de alimentos são em geral atraentes com fotos coloridas que remetem a vida saudável e contém palavras do tipo “sem açúcar”, “rico em fibras” ou “baixas calorias”, é bom observar que estas informações muitas vezes visam prioritariamente atrair os consumidores sem esclarecer, de fato, o valor nutritivo do produto.
Nos últimos anos a indústria de alimentos lançou inúmeros produtos oferecendo alternativas com baixo teor calórico, parecidas em sabor com os alimentos-calóricos, porém, muitas vezes com o valor nutricional pequeno ou mesmo inexistente.
Nos Estados Unidos há regras e requisitos específicos da Food and Drug Administration (FDA). Atualmente estas normas estão sendo revisadas, o FDA está considerando solicitar mudanças no rótulo da informação nutricional para ajudar os consumidores a fazerem escolhas mais saudáveis. As alterações propostas envolvem especificações sobre tamanho, teor de açúcar adicionado, e principalmente o número de calorias por porção e o número de porções em cada embalagem. Contudo, uma orientação importante que, espera-se fique claro, é o valor nutritivo do produto que esta sendo consumido, especialmente quando destinados para as crianças, pois, os pais precisam conhecer os nutrientes, além do teor de calorias que estão oferecendo aos filhos.
Em se tratando de dieta saudável para as crianças é muito importante saber que a oferta para as crianças de alimentos e bebidas modificados e adoçados artificialmente não vai necessariamente reduzir a sua ingestão calórica, diminuir o risco de obesidade ou melhorar a sua saúde no longo prazo.
Estudos em animais e dados preliminares humanos sugerem que a exposição ao sabor doce no início da vida promove preferências de longo prazo para alimentos e bebidas doces. A contribuição do doce com alto teor calórico e o consumo de energia além do necessário, estão diretamente relacionados com a obesidade. Rótulos de nutrientes como “sugar-free” e “sem adição de açúcar” pode oferecer uma solução aparentemente fácil para os pais que querem evitar lanches carregados de açúcar e refrigerantes, mas surpreendentemente, esses produtos são muitas vezes mais doces do que os seus homólogos adoçadas com açúcar, gerando um hábito que poderá ser para toda a vida.
Por outro lado, estudos mostram que os consumidores que utilizam os alimentos e bebidas rotulados com como “saudáveis” com rótulos sugestivos que remetem ao natural, desconhecem que muitos desses produtos são altamente processados e podem não resultar em benefícios para a saúde. A embalagem atraente com fotos de alimentos saudáveis e alegações de saúde, na frente, aumenta a probabilidade dos consumidores ficarem desatentos ao detalhe do real valor nutricional, em geral colocado em letras miúdas e exibido na parte de trás do pacote.
No Brasil, há alguns meses, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), determinou que a resolução RDC 54/2012 fosse seguida pelos fabricantes de alimentos em todos os rótulos.
Esta nova resolução define o uso de termos como “light”, “baixo”, “rico”, “fonte”, “não contém”, entre outros. Há especificação de critérios para alimentos isentos de gorduras trans, ricos em ômega 3, ômega 6 e ômega 9, além dos sem adição de sal. Por exemplo, os alimentos que apresentarem no rótulo a alegação light devem ser reduzidos em algum nutriente e o termo só poderá ser empregado se o produto apresentar de fato, redução calórica em comparação com a versão convencional. Informações de alto teor de proteínas necessitam comprovação prévia e devem seguir critérios de qualidade estabelecidos.
Esta norma regulamenta também os anúncios veiculados nos diferente meios de comunicação, tanto na forma oral como na escrita. Também, houve modificação na forma para os cálculos das alegações nutricionais, se constar como sem açúcar, por exemplo, o alimento não pode conter mais de 0,5 g de açúcares por porção, ou seja, não mais em 100g ou 100 ml do produto, como era anteriormente definido. Portanto, os critérios para uso das alegações nutricionais, na maioria dos alimentos, devem ser calculados com base na porção do alimento contida na embalagem.
O objetivo é ajudar o consumidor a entender essas e outras alegações, bem como auxiliar no consumo mais adequado às necessidades nutricionais.
Os atuais regulamentos de rotulagem tanto do FDA como da ANVISA podem auxiliar o esclarecimento do consumidor o qual, porém, deverá estar atento e revisar com cautela o rotulo e principalmente esta ciente que deve ingerir as quantidades de calorias adequadas para suas necessidades.
Fonte: 
Allison C. Sylvetsky, Ph. D., N Engl J Med; 371:195-198, July 17;2014