O impacto do desequilíbrio entre consumo energético e gasto calórico na saúde de mulheres atletas

Com o aumento do número de mulheres fisicamente ativas surge a necessidade de compreender a fisiologia única das atletas e sua saúde.
Para os atletas em geral, o fator limitante para o desempenho durante o treinamento e competições, especialmente em esportes de alta intensidade e de longa duração, é o consumo de energia, especialmente o consumo de carboidratos.
A saúde pode ser prejudicada quando a energia necessária para as funções fisiológicas básicas do corpo não se encontra disponível. Podem ocorrer alterações importantes incluindo: menor capacidade para recuperar de alguma um lesão, incapacidade de criar ou manter a massa óssea, função menstrual irregular, amenorreia e até infertilidade e, também, aumento do risco cardiovascular.
Existe uma correlação direta entre a disponibilidade de carboidratos, saúde reprodutiva e estrutura musculoesquelética. Parece lógico que o aumento do gasto energético com o treinamento e um maior desempenho atlético aumenta o consumo de energia, no entanto, especialmente entre mulheres atletas, esta ingesta pode ser inferior ao necessário, por transtorno alimentar ou ser decorrência de hábitos alimentares como o jejum prolongado ou opção por alimentos de menor valor energético. Este déficit pode ser intencional ou inadvertido ou por transtorno alimentar.
A tríade de déficit de energia pode ser calculada tomando a ingestão energética (em quilocalorias) e subtraindo a energia (em quilocalorias) gasta durante os exercícios.
A tríade da mulher atleta consiste no seguinte:
1. Baixa disponibilidade de energia
2. Distúrbios menstruais
3. Baixa densidade mineral óssea
Apesar de teorias anteriores sobre as causas de alterações morfofuncionais como  disfunção menstrual e o aumento do risco de fraturas de tensão na atleta do sexo feminino, estudos têm demonstrado que o principal mecanismo é baixa disponibilidade de energia, ou seja o consumo insuficiente para as demandas. Mesmo as atletas sem alterações menstruais podem estar com baixa disponibilidade de energia e, portanto, podem sofre efeitos deletérios sobre a saúde musculoesquelética e também impactar sobre o desempenho.
Muitas vezes, o déficit não é intencional e passam despercebido por médicos, treinadores e até mesmo pelas próprias atletas podendo levar a consequências potencialmente desastrosas. Quando esse déficit de energia é intencional é considerado como distúrbio alimentar.
O apetite de um atleta não é um indicador confiável do balanço energético. A fome é, na verdade, reprimida por um período após exercício que alcancem 60% ou mais do consumo de oxigénio máximo (VO2max.)
A privação de alimentos aumenta a fome, mas o déficit de energia, quando causada pelo gasto de energia a partir de exercício, não aumenta o apetite. (Hubert P; King NA; Blundell JE). Estudos demonstram que um aumento de 20% no gasto energético durante 40 semanas de treinamento de maratona não resultou em um aumento no consumo de energia. (1;2).
Outro fator que deve ser considerado na deficiência energética crônica em atletas é que o peso corporal não é um indicador confiável do equilíbrio do consumo/gasto de energia ou da necessidade de macro nutrientes. O ganho de peso resultante de maior massa muscular contrabalança com folga a perda de peso resultante da redução reservas de gordura decorrentes de maior gasto energético.
Em 2014, um consenso baseado nas recomendações de simpósios internacionais sobre o Atleta Feminino, forneceu orientações clínicas sobre triagem para a tríade, juntamente com o seu diagnóstico e tratamento. Em termos de terapia não farmacológica, por exemplo, a declaração informa que “o sucesso do tratamento de atletas e mulheres que se exercitam depende de uma abordagem multidisciplinar, incluindo uma atenção primária: médico, nutricionista do esporte e treinador. Em alguns casos, o paciente pode se beneficiar de consulta com endocrinologista e um ortopedista. A família poderá auxiliar a identificar os distúrbios alimentares e, quando forem relevantes, pode ser necessário um acompanhamento psiquiátrico.
Portanto, muita atenção deve ser dada as ingesta calórica e seu equilíbrio com os gastos, especialmente a ingestão de carboidratos entre os atletas, especialmente nas mulheres. Se houver indícios de transtornos alimentares, um psiquiatra familiarizados com o estes transtornos deve ser consultado imediatamente pois, na mulheres fisicamente ativas, particularmente as que são atletas, podem ter a saúde comprometida.
Fonte:
1. http://emedicine.medscape.com/article/312312-overview
2. Westerterp KR, Verboeker-Van deVenne WPHG, Meijer GAL, et al. Self-reported energy intake as a measure for energy intake: a validation against doubly labeled water. Ailhaud G, Guy-Grand B, Lafontan M, et al, eds. Obesity in Europe 91. London, England: John Libbey; 1991. 17-22.
3. Williams NI, Helmreich DL, Parfitt DB, et al. Evidence for a causal role of low energy availability in the induction of menstrual cycle disturbances during strenuous exercise training. J Clin Endocrinol Metab. 2001 Nov. 86(11):5184-93.