Entendendo o Teste Cardiopulmonar

A combinação do teste ergométrico (TCP), saturação de oxigênio e medidas das trocas ventilatórias torna o teste cardiopulmonar um método superior. Este método pode ser considerado como um precursor de exames mais onerosos como cintilografia e angio-ressonancia. Em muitas situações clinicas é considerado uma ferramenta indispensável na tomada de decisão.
Resumidamente pode ser dito que CP permite:
  1. Identificação dos mecanismos fisiológicos de limitação ao exercício
  2. Acurada quantificação da capacidade funcional
  3. Estratificação prognóstica mais curada que na ergometria convencional
Há 25 anos o TCP vem sendo aplicado tanto na clinica como em estudos científicos, resultando em um exame com excelente embasamento científico na atualidade. Contudo, permanece como um método subutilizado.

Uma explicação seria a grande quantidade de variáveis que são disponibilizadas com o avançar da tecnologia, em novos “software”, geradoras de possível fator de confusão. As variáveis devem ser consideradas conforme a situação de cada paciente ou quando for para avaliação para a prática de atividade física ou mesmo no atleta, deve-se focar nas relações da frequência cardíaca e os respectivos limiares.
Revisando rapidamente as variáveis do exame:
1) VO2 Max – É o valor pico do VO2 durante o esforço; marcador prognóstico universal; depende da eficiência de interação entre o sistema cardiovascular e pulmonar com a musculatura periférica. Pode variar de 15 a 80mlO2/kg-¹.min
2) Limiar aneróbio- É o ponto onde há um aumento linear do VE e do VCO2; onde o esforço que pode ser sustentado por períodos maiores. Valor de referência para a prescrição do exercício; em geral está entre 50 a 65% do VO2 Max. Influenciado pela predisposição genética.
3) RR – É definido pela relação entre VCO2/ VO2, no momento em que o exercício torna-se mais intenso o VCO2 excede o VO2 modificando a relação entre eles. É o melhor indicador não invasivo para indicar o nível do esforço. O esforço é excelente quando R > 1,1.
4) VE/CO2 – representa a correlação da ventilação e da perfusão com o sistema pulmonar. Geralmente reflete a severidade da doença e o prognóstico em inúmeras situações clinicas como insuficiência cardíaca, miocardiopatia hipertrófica, hipertensão pulmonar, DBPOC e doenças intersticiais pulmonares. Normal <30 sendo aceito pequenos aumentos com a idade.
5) VE/O2 – Reflete o custo do VO2 no pico do esforço. Valor normal < 40, sendo aceito no máximo até 50. Altera no paciente com miopatia
6) Pet Co2- Da mesma forma que o VE/CO2 representa a correlação da ventilação e da perfusão com o sistema pulmonar
7) VE/VVM – Relação entre o volume minuto e a ventilação ventilatória máxima medida em repouso. Utilizada para o diagnóstico etiológico de dispneia, pois correlaciona com a função pulmonar. Normal < 0,80
8) VO2/FC – Pulso de oxigênio é a relação do VO2 com a frequência cardíaca. É a forma não invasiva de avaliar o volume sistólico em reposta ao exercício. Aumenta de forma linear com a carga de trabalho. Auxilia no diagnóstico de isquemia, sugerindo disfunção ventricular.
9) ΔVO2/ΔW- correlaciona as duas variáveis alterando em situações onde há ineficiência para aumentar o VO2 de forma proporcional ao aumento do trabalho. A correlação esperada é 10 ml.min. /W
10) Saturação de oxigênio- Auxilia no diagnóstico de dispneia inexplicável, correlacionando com a função pulmonar. Não dever reduzir mais do que 5%. Normal > 95% durante o esforço
11) Frequência cardíaca – esperado aumento de 10 bat/3,5 ml O2. kg/min. Retrata a reserva cronotrópica. No primeiro minuto pós-teste deve reduzir pelo menos 12 batimentos em relação ao máximo alcançado. Avalia a recuperação do sistema parassimpático
O teste cardiopulmonar permite identificar alterações precoces no desencadeamento da chamada cascata isquêmica, o qual inicia com alteração no relaxamento, seguida por alterações na contração do músculo cardíaco e, dependendo da extensão destas alterações já poderá haver modificação de parâmetros no TCP, como por exemplo, no pulso de oxigênio que retrata o volume sistólico. Estas alterações antecedem as modificações no eletrocardiograma e mesmo o aparecimento dos sintomas.
As variáveis do TCP são tabuladas em intervalos regulares, a cada 10 ou 20 segundos ou, dependendo do programa utilizado, a cada respiração. A sequencia registrada permite gerar gráficos com linhas tendência e, através destas curvas, torna-se possível separar o comportamento normal do patológico. Conforme as curva se distanciam da normalidade, estas alterações podem ser enquadradas em doenças específicas, cardíacas ou pulmonares permitindo um diagnóstico diferencial mais seguro.
A correlação entre as variáveis permite definir o momento exato que ocorreram alterações, tanto para relacionar com o tempo como com nível de esforço suportado, antes de surgirem alterações decorrentes de isquemia.
Os valores que obtidos como VO2 pico, VO2 no limiar anaeróbio; fração expirada de O2 e CO2; Ventilação minuto e demais variáveis, delas derivadas possibilitam estratificar risco, definir prognóstico e fazer acompanhamento de intervenções tanto medicamentosas como cirúrgicas.
Na insuficiência cardíaca as variáveis mais importantes são: VO2 pico, equivalente ventilatório de CO2 (VE/VCO2), presença ou não de ventilação periódica e Pet Co2. Estas informações correlacionadas estratificam o risco do paciente, andando em uma escala de cores do verde para o vermelho, estabelecida como zona de maior risco. Da mesma forma, na cardiopatia isquêmica onde VO2 Max , VO2/FC e ΔVO2/ΔW também estratificam o risco de novos eventos.
O exercício é o estresse fisiológico mais comum e que promove a maior demanda no sistema Cardiopulmonar. O teste cardiopulmonar é o exame que permite melhor monitoramento destas modificações.

Congresso da SOCERGS 2014

O teste cardiopulmonar foi um dos temas do Congresso da SOCERGS 2014, realizado em Gramado, de 21 à 23 de agosto. A Cardiométodo esteve presente neste importante evento, com o objetivo de revisar informações sobre o teste cardiopulmonar e facilitar o entendimento do exame.

Gostaríamos de compartilhar nossa apresentação para quem estiver interessado em acompanhar parte do que foi apresentado no Congresso pela cardiologista Gicela Risso Rocha. Faça o download clicando aqui.